domingo, 12 de julho de 2009

* HOMENAGEM A NOSSA QUERIDA CANTORA SIVINHA ARAUJO SAUDADES*

Ela tinha uma voz falsamente infantilizada. Tanto era falsa que, quando gravou Paraíba, de Luiz Gonzaga, (e eu ouvi há pouco), numa versão pré-trash, em 71, e Risque, de Ary Barroso, mostrou que tinha um vozeirão capaz de rasgar a imagem de meiguice que foi sempre sua marca.

Sylvinha (que, no meu tempo de adolescente, era Silvinha, sem esse "y" que surgiu de repente), começou a cantar no coral de músicas folclóricas que a mãe, professora de música em São João del Rei (MG), reuniu e que se apresentava, em 1963, em em rádios e programas culturais. Dois anos depois, fez o que tanta gente que quer acontecer no tal cenário musical fez: arrumou as malinhas e foi para "as capital", para Belo Horizonte, se apresentar na tv, no "Programa só para Mulheres". Mais dois anos, Silvia Vieira Peixoto ganhou o "Centro do País", onde teria lançamento nacional no programa de Chacrinha.


Com aquela carinha de menina boa, loiríssima, boa intérprete, ganhou contrato com a então poderosa TV Excelsior de São Paulo (SP) e cantou durante algum tempo no Programa dos Incríveis. Daí para dividir o programa "O Bom", com Eduardo Araújo, foi um passo. Profissional e pessoal: com ele (que conheceu quando tinha 13 anos) se casaria em 1969, numa cerimônia que parou a cidade.



Prova de que o tal maio de 68 custou para virar realidade no Brasil, no que toca às questões comportamentais, o início de namoro de Silvinha e Eduardo Araújo, que fazia o tipo "revoltado" na Jovem Guarda, com repertório de malandro e figurino de cowboy urbano, foi complicado. Os pais da moça não achavam graça naquela história, começando pela idade, sem contar que achavam o futuro do genro um desastre, como cantor de rock. Namoravam, então, escondido.



Conta a lenda que colegas da área levavam os bilhetinhos apaixonados para os pombinhos terem seus encontros. Até que o apaixonado tomou uma atitude e fez o que todo careta da época fazia: pediu a mão de Silvinha.


Então, num conto de fadas bem brasileiro, casaram-se, no dia do aniversário dele, 23 de julho de 69, em plena Igreja da Consolação, num final de tarde. Claro que teve histeria em frente à igreja,


A recepção foi na casa do noivo, ou seja, no Hotel Danúbio, com show do grupo Cleans (veja só que nome para grupo de pop! ah, anos 60!!) e tendo os irmãos Ronald e Márcio, que formavam a dupla Os Vips, como garçãos.

Os padrinhos mais famosos não puderam aparecer: Roberto Carlos e sua então mulher Nice haviam sido vítimas de um falso alarme de seqüestro do filho, Segundinho. Mas o Rei entrou com o carrão para a noiva chegar à Igreja em que Wanderléa como se dizia na époa "abafou" a bordo de uma superminissaia.

Para quem nunca viveu aquela época, havia um astrólogo chamado Omar Cardoso, que tinha programa transmitido Brasil afora. Pois ele foi. Assim como Ronnie Von, só que desacompanhado porque, na época, escondia que era casado. Só rindo, mesmo!

Dizem que havia mais de duas mil pessoas rodeando a igreja e até tropa de choque teve de entrar em ação para evitar a invasão do lugar.

Em 1967, Silvinha já tinha gravado, "Vou botar pra quebrar" e "Feitiço de broto" (ambas de Carlos Imperial, outra figura daqueles anos 60 que vai ganhar um post aqui, em breve), pela Odeon. Em 1968, excursionou com aquele famoso show que a Rhodia patrocinava, cantando na Fenit, em São Paulo, no Copacabana Palace Hotel, do Rio de Janeiro e em outras capitais brasileiras.

Foi na volta deste tur que ela ganhou contrato com a TV Tupi, para voltar a participar do Programa dos Incríveis, mas seis meses depois estava na TV Record.



Discografia: gravou três LPs na Odeon, nos anos de 1968, 1969 e 1971 e foi contratada pela RCA Victor, de 1972 a 1975. Nerste ano, participoudo show "Pelos caminhos do rock" ao lado de Eduardo Araújo, no Teatro Bandeirantes, de São Paulo, e gravou quatro compactos simples.


Ainda neste ano, passou para a gravadora Copacabana. Silvinha teria vendido mais de 1 milhão de discos, no auge da carreira que interrompeu para viver na fazenda, cuidando dos filhos, Mônica e Edu Luke.

Silvinha retomou a música profissionalmente pelo viés das vocalizações e backing vocals em jingles e discos, até que, em 1978, foi chamada para substituir uma cantora que não aparecera para gravar uma peça publicitária. "O que me encantou no jingle é que eu só dependia do meu talento. Não dependia de gravadora, de televisão. Pude cantar coisas dificílimas e arrasei", disse em entrevista à Isto é Gente, que afirma: "Silvinha se tornou a melhor cantora do gênero. Chegava a gravar seis vezes num dia, ganhando o equivalente a R$ 4.000."


Daí para frente, se tornou uma das vozes mais ouvidas nos comerciais brasileiros: Mc Donald’s, Coca-Cola, Unibanco, Varig, em vários anúncios destas empresas, tem a voz de Silvinha que deu nova guinada, junto com Eduardo Araújo criou gravadora própria, a Number One e, em 2001, lançou o CD "Suave é a Noite", com músicas românticas, reabrindo a temporada de shows. Já brigava com a doença que a levaria neste dia 26 de junho de 2008.



"Numa entrevista para Marcelo Tas, Eduardo Araújo contou como conheceu Silvinha: "Na verdade eu vi a Sylvinha e ela não me via. O Carlos Imperial me chamou para tocar o programa (O Bom), veio na fazenda em BH o irmão do Tony Tornado, o Gerson Combo, para me chamar. Eu tive que sair para fazer este programa. No Rio, com o Carlos Imperial, fomos ver um show de uma menina na Pampulha e lá, vendo o show, eu disse que ela cantava idêntico a Rita Pavone.


A Sylvinha tinha 13 anos na época. Depois, ela se apresentou no programa do Imperial e de um ano a um ano e pouco, eu estava na fazenda com ele, compondo, e, de repente, chegou dois caras para nos contratar para apresentar um programa pela TV Excelsior. Eu estava estourando com a música "O Bom". Fomos falar com os diretores da TV, assinamos o contrato e aí eu pensei em trazer a Silvinha para se apresentar comigo. Mas ela já havia sido contratada antes para apresentar comigo. Na outra semana, ela chegou de Minas e, quando nos vimos, nos demos um abraço, e até hoje não sabemos porque aconteceu aquilo. Na época, eu namorava a Débora Duarte, mas depois daquele abraço na Sylvinha nunca mais a larguei."


Apesar do casamento bem-sucedido, Silvinha era realista quanto aos prejuízos trazidos pela parceria, inclusive a forçada (que foi transformar o casal em dupla de cantores) e nem um nem outro escondiam que ela foi a maior prejudicada: "As gravadoras passaram a me ver como a esposa do Eduardo. Mas a gente não cantava bem em dupla, as vozes não combinavam.", disse, acrescentando ter-se dado conta que não precisava viver à sombra do marido: "resolvi abrir mão". "Sempre fiquei muito chateado com essa história, porque foram os outros que inventaram a dupla. Nós tínhamos estilos diferentes, caminhos diferentes. E a Silvinha acabou muito injustiçada", completou Eduardo em entrevista.


Eu vi, há alguns meses, uma entrevista dos dois, na Record News. Achei que ela parecia meio apática, mas, como há tempos não acompanhava nada da vida dos dois, nem me dei o trabalho de ler alguma coisa para saber. Apenas me chamou atenção que eles estavam fazendo shows em navios e pensei como isso estava virando uma opção para este pessoal que fez a Jovem Guarda, como Roberto Carlos e Fábio Jr.

Nunca mais pensei em Silvinha. Hoje, me entristeci muito com sua morte. Lá se vai um pedaço dos meus anos dourados destes finais da década de 60.





Aqui, Silvinha:


E, aqui, Sylvinha:

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